Um pouco de história
Conteúdo extraído do Livrão de 2 anos da BSP, organizado pela SP Leituras e Univers Design e Arquitetura, responsável pelo Projeto Gráfico da Biblioteca de São Paulo.
Biblioteca Viva
A Biblioteca de São Paulo foi concebida para ser um espaço arrojado e multimídia, de acessibilidade total, com projeto inovador de inclusão social por meio da leitura. Sua estrutura foi planejada para oferecer conforto, autonomia e atenção ao usuário (sócio) - este, o elemento central da biblioteca. Diferentemente de bibliotecas convencionais, a BSP disponibiliza a literatura ao lado de outras mídias, como internet, televisão e jogos eletrônicos. É a chamada biblioteca viva!
O parque
Vencedor de um concurso público de arquitetura promovido pelo governo estadual, no qual concorreram outras 58 equipes, o projeto do Parque da Juventude transformou uma gleba de quase um milhão de metros quadrados, ocupada por pavilhões penitenciários (antigo Carandiru), em um parque público, uma escola profissionalizante e uma biblioteca-modelo. O conjunto, situado na zona norte da cidade, foi executado em partes, conforme as três áreas predeterminadas no projeto: parque esportivo (finalizado em 2003), parque central, com grande massa arbórea (inaugurado em 2004), e parque institucional (concluído em 2007). O desenho do parque foi realizado com a ativa participação dos paisagistas Rosa Kliass e José Luiz Brenna - com destaque para o tratamento da área das antigas muralhas e da praça de acesso. Das construções existentes, foram mantidos dois pavilhões que, inteiramente modificados, abrigam as Etec's (escolas técnicas profissionalizantes).
A arquitetura
Em busca de uma edificação para abrigar a Biblioteca de São Paulo, a então Secretaria de Estado da Cultura identificou nesse espaço grande potencial para a instalação de um inédito modelo de biblioteca pública, na qual o frequentador pudesse associar o hábito da leitura com o lazer oferecido pelo parque. Implantada no Parque da Juventude, em um edifício multiuso com características bastante apropriadas ao novo uso previsto, a Biblioteca de São Paulo inova ao priorizar o estímulo à leitura fomentando a pesquisa em busca de melhores referências. Dividida em dois andares, a BSP, com foco na literatura e mídias digitais, possui acervo de mais de 46 mil obras, entre livros físicos ou em braile, audiolivros, DVDs, jogos físicos e digitais (games), brinquedos, além de jornais e revistas.
O prédio possui uma área ampla com iluminação zenital, garantindo uma grande flexibilidade de layout interno. A estrutura é formada por 20 pilares e 10 vigas, espaçadas a cada 10 metros. O mobiliário ganhou divertidos tons coloridos e serigrafias lúdicas foram propostas nos vidros para dar mais intimidade a quem lê ou pesquisa. A biblioteca está organizada como se fosse uma livraria, visando atrair todos os públicos, mesmo aqueles que não estão acostumados a ler.
O espaço é constituído por um pavimento térreo com recepção, acervo, auditório para 90 pessoas e módulos de leitura para crianças e adolescentes. O terraço existente nesse pavimento foi coberto por uma estrutura tensionada, que lembra "tendas náuticas", áreas de estar e espaço para performances.
No pavimento superior, além das áreas multimídia, encontram-se o acervo e diversos espaços de leitura, sendo um módulo indicado para adultos. Foram implantados mobiliários especiais como mesas para deficientes visuais e mesas ergonômicas para deficientes físicos. Para atender às normas de acessibilidade, o espaço possui pisos instalados táteis, corrimão com duas alturas, inscrições em Braile e soleiras adequadas.
Baixe as plantas: piso térreo e piso superior.
Os terraços do pavimento superior voltados para as fachadas leste e oeste, de maior insolação, foram cobertos por pérgulas fabricadas com laminados de eucalipto de reflorestamento e policarbonato, garantindo um espaço agradável para performances e área de estar. As demais fachadas são compostas por placas de concreto pré-moldadas com acabamento texturizado colorido.
O projeto
O edifício recebeu poucas adequações para a conversão em biblioteca, com o acréscimo de um auditório de 90 lugares e espaço administrativo no piso superior. Foram adequados também os terraços nas extremidades do piso superior, com a incorporação de pergolados com proteção solar, cobertura translúcida e mobiliário leve e colorido. Um grande espaço externo foi coberto com lona tensionada, fixada na lateral do edifício. O projeto de identidade visual e sinalização partiu do conceito de máxima inclusão e acessibilidade, provendo imagens e tipografia diversificadas em alusão ao público esperado pela BSP. O tema dominante gira em torno das letras e imagens que compõem o universo literário abrangido pela biblioteca e estão presentes como esculturas de blocos tipográficos ampliados e aviões de papel que se espalham pelo grande vazio central.
Sobre letras
Por trás da comunicação visual e da ambientação estão as letras, matéria-prima básica para o universo da leitura. Estão logo na entrada, quando todos são recebidos por enormes blocos de impressão, parecidos com os que Gutenberg usou no primeiro livro impresso. Estão nos vidros, com todas as formas e desenhos possíveis mostrando que cada texto é diferente do outro, cada livro é uma ideia e cada leitor... bem, cada leitor tem suas preferências. Estão no balcão de recepção e espalhadas por todo o edifício, ora em relevo, ora nas superfícies e ora em Braille. A acessibilidade foi a meta que orientou todas as informações e usos dos espaços e um acordo social está em curso permanente, fazendo com que esse incrível e amplo universo de leitores conviva debaixo do mesmo teto. Até onde for possível, a palavra não vai ser evitada.
E pessoas
Cada silhueta, uma história. Nos vidros que separam as áreas de leitura, nas paredes que circundam o primeiro piso, nos vidros que protegem o interior do sol direto, nos biombos e espaços reservados, as pessoas são o centro desse universo. O outro tema que cobre as paredes e vidros da Biblioteca são as pessoas, leitores reais que frequentam o parque e foram convidados a posar e deixar sua imagem ou silhueta impressa. É para eles que esse espaço foi desenhado, leitores e leitoras de todas as idades, características e desejos. Durante dois ensolarados finais de semana, os usuários do Parque foram convidados a escolher um livro de sua preferência e posar para as fotografias que ilustram os vidros da Biblioteca. Outros posaram fazendo o que mais gostam ou aquilo com que mais se identificam. Skatistas e patinadores, ciclistas e corredores, famílias inteiras e qualquer um que representasse a diversidade da nossa cultura. Esses tiveram sua silhueta recortada e foram eternizados nas paredes internas em cores vibrantes que, sobrepostas, criavam ainda mais cores complementares.
Aviões
Por que aviões? Porque sim. Quem não fez um avião de papel, com jornal ou páginas de revistas? E de repente olhamos para cima e vemos algumas das páginas mais importantes da nossa cultura, com mais de três metros, dobradas e voando sobre nossas cabeças. Como um grande lembrete, eles nos dizem que ler é um prazer que pode ser sentido em qualquer lugar, com qualquer livro que nos caia nas mãos. Não vamos sair por aí arrancando preciosas páginas impressas para transformá-las em aviões, mas temos que pensar que tudo o que sabemos está guardado em infinitas páginas de livros que herdamos e vamos deixar para o futuro. Cada avião conta um pouco da nossa cultura e da nossa história, por isso temos uma página de um dicionário, uma importante página da nossa literatura, quadrinhos que falam de um modo informal sobre as coisas mais sérias, letras de música e páginas sobre a descoberta e divulgação da ciência e do conhecimento.
Voltar para a página A Biblioteca.