Histórias feitas de memórias
12 DE abril DE 2022O programa Segundas Intenções da Biblioteca de São Paulo, realizado no dia 9 de abril, recebeu a escritora e ilustradora Lúcia Hiratsuka. No encontro presencial mediado pelo jornalista Manuel da Costa Pinto, a convidada contou detalhes da sua trajetória e mostrou como o hábito da leitura na infância a fez ingressar na profissão.
Nascida na região rural da cidade de Duartina, no interior de São Paulo, Lúcia foi alfabetizada em japonês. As primeiras leituras foram as revistas japonesas, ricamente ilustradas, que traziam várias parlendas, trava-línguas e clássicos da literatura universal, como Oliver Twist e Os Miseráveis, apresentados em formato semelhante aos mangás.
Seu interesse pelas ilustrações nasceu justamente nas páginas dessas publicações. Mas foi somente após finalizar a faculdade de Belas Artes, em São Paulo, e conhecer a escritora Eva Furnari, que resolveu adotar a literatura infantojuvenil como campo de trabalho. Muito crítica com a própria produção, achava que nunca estava pronta, o que a fez ingressar em vários cursos de desenho e escrita, incluindo um período na Universidade de Fukoka, no Japão. “Lá eu percebi que precisava encontrar a minha identidade artística e ir um pouco além da técnica”, diz.
Ao estudar os Erons, livros feitos somente com ilustrações, Lúcia entendeu que a memória afetiva da infância poderia se transformar em grandes histórias. Desse processo de interiorização vieram suas principais obras, como a coleção de contos e lendas do Japão Urashima Taro – A história de um Pescador, que recebeu o selo de altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantojuvenil (FNLIJ) e os títulos Histórias Guardadas pelo Rio e Chão de Peixes, vencedores do Jabuti (2019) na categoria melhor livro juvenil e melhor ilustração, respectivamente.
No evento, Lúcia também contou como foi aperfeiçoando seus trabalhos ao longo do tempo, especialmente com o uso do Sumiê, uma técnica de pintura oriental, o estudo das cores e tons e a importância do branco como respiro nas páginas, o que ela denomina como vazio consciente. Apaixonada pelo o que o faz, a escritora afirma que o importante é nunca parar de pesquisar, buscar referências e estudar. “É preciso manter a paixão acesa dentro da gente. Ao iniciar uma nova produção, procuro sempre me conectar com a alegria que eu sentia ao desenhar quando criança”, finaliza.