Rafael Gallo, escritor tardio e premiado
17 DE abril DE 2023O escritor Rafael Gallo foi o convidado da edição de abril do Segundas Intenções da Biblioteca de São Paulo. Rafael é autor do romance Dor Fantasma, vencedor do Prêmio José Saramago em 2022, e participou, no último sábado, 15, do bate-papo com o jornalista Manuel da Costa Pinto no auditório da biblioteca.
No início do diálogo, Rafael contou como foi sua jornada até iniciar na escrita e, ao contrário da maioria dos escritores, o caminho foi relativamente longo. Nascido em São Paulo, o escritor se mudou cedo para Bauru e, lá, cresceu como um garoto tímido e introspectivo, que gostava de desenhos animados e histórias em quadrinhos, tendo, por isso, a vontade de ser desenhista. Na adolescência, a busca por uma "tribo" e a necessidade de construção da própria identidade fez a inclinação pelos desenhos dar lugar à paixão pela música. Paixão essa que Rafael materializou, "levei a brincadeira um pouco mais longe", brincou o autor, explicando que foi percebendo com o tempo que sua queda era pela criatividade. No desenho, gostava de criar, na música de compor, e ao perceber o interesse pela leitura foi vislumbrando, dessa mesma forma, um caminho na escrita.
A porta de entrada para esse interesse, entretanto, foi tardia, se comparada sua trajetória à de outros escritores e escritoras de relevância no cenário nacional. Rafael contou que foi por conta das leituras obrigatórias da época dos vestibulares que se aproximou da literatura. O escritor destacou, nesta altura da conversa, como a experiência com a música auxiliou em seu começo como escritor, "assim como quando tocava um instrumento, sabia que poderia desenvolver minha escrita", apontou, enfatizando que, apesar de nosso idioma mãe já ser uma linguagem natural, diferentemente da música, o exercício intencional da escrita pode, e deve, ser exercitado. Uma das técnicas mais utilizadas por Rafael nesse período foi a leitura e releitura de textos de grandes autores como Machado de Assis e Clarice Lispector, "eu ficava 'desmontando' os contos para ver como eles funcionavam", revelou.
Com esse espírito o autor passou a escrever os seus primeiros contos, já com 28 anos, tentando, planejando, fazendo, refazendo, até que reuniu histórias o suficiente para a sua primeira publicação, Réveillon e Outros Dias. Ainda sobre o processo de escrita e a seleção dos contos incluídos na obra, Rafael afirmou preferir temas "límpidos", que não fossem entrecortados por múltiplas questões ao mesmo tempo, e que pudessem ser atraentes para o leitor, assim como pareciam ser para ele.
O bate-papo continuou, com discussão sobre as duas outras obras do escritor, Rebentar e Dor Fantasma, que fechou o encontro. Sobre Rebentar, Rafael salientou que o texto, a princípio, seria um conto, e que ele continua sendo, na verdade um grande conto sobre o desmonte do luto de Ângela, a protagonista que sofre com o desaparecimento de um filho. Já sobre Dor Fantasma, título que rendeu ao autor o sonhado Prêmio Saramago, Rafael destacou o embate sobre a rigidez e o moralismo e como a última obra faz uma espécie de par com Rebentar. Apesar de não haver nenhuma ligação temática ou cronológica com o título anterior, os dois livros tratam sobre relacionamentos familiares e a intimidade das pessoas representadas de tal modo que há nelas uma forte conexão.
As mais de duas horas de conversa também contaram com a participação do público tanto presencialmente, por meio das perguntas enviadas à produção do encontro, como por meio virtual, no Facebook da Biblioteca.
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